Ser Au-pair na Alemanha… faz tempo que eu não comento mais sobre este assunto.

“Au-Pair” é um tipo de intercâmbio interessante, intenso, divertido e também muito difícil e estressante. Com certeza, essa é uma dessas experiências que só se vê com clareza, depois de alguns anos de observação. É sobre isso que eu pretendo escrever hoje.

Parece besteira, mas já fazem mais de 2 anos que ser “Au-Pair” não faz mais parte da minha realidade.

Quando eu converso com brasileiros que não vi faz muito tempo, muitos acham que eu ainda sou, pois convivo com muitas brasileiras que são intercambistas dessa forma. Digamos que atualmente eu seja aquela “tia old school” que sabe sobre tudo e já passou por toda a parte ruim e boa. Geralmente quando me pedem, eu consigo uma resposta boa de como reagir em determinadas situações. Quando as coisas “pipocam” nas famílias hospedeiras, eu recebo vários recados.

Como eu sei (eu vi nas buscas do blog), muita gente acessa aqui para ver mais do assunto. Óbvio que eu gosto de ajudar, mas sempre responder as mesmas perguntas se torna repetitivo. Então, aqui vão umas ponderações minhas e como fazer para resolver alguns problemas.

Questão saúde – não saber qual médico pode ir, qual não, o que o seguro paga,…

Naqueles 10 meses nos quais fiquei com minha família hospedeira, não fui nenhuma vez no médico (o que não significa que eu não tenha ficado doente). Eu não sabia quais eram meus direitos e na vez que eu perguntei, a resposta era que eu tinha um seguro de saúde, mas não o que ele realmente cobria.

Em determinadas vezes pedi para ir ao médico fazer uma consulta, mas ao invés disso me diziam para tomar um chá e que logo tudo ficaria bem. Muitas pessoas que vem para cá passam o mesmo, por isso é importante que a conversa a respeito disso já seja feita antes desses tais problemas aparecerem.

Normalmente o seguro cobre consultas com um médico clínico geral, mas somente uns planos melhores cobrem ginecologista, dermatologista ou oftalmologista.

Para mulheres ainda há a questão do anticoncepcional. É importante pensar nessa questão antes de vir, então você pode decidir em já trazer as cartelas do Brasil ou consultar com algum profissional de ginecologia na Alemanha.

Locomoção – patrões que se recusam a ajudar a chegar até a estação de trem/cidade mais próxima

Vamos pensar na seguinte situação: Você mora no interior, não tem um ônibus que passe regularmente e seus patrões se recusam a te levar ao menos na rodoviária mais próxima. Claramente tem um problema aí.

Ao você vir de Au-Pair você assina um contrato e nele tem vários direitos e deveres que você e sua família tem. Nisso está incluso que você tenha como se locomover…

Eles não querem cumprir o combinado? Mostre o tal contrato também, é bom que eles vejam que a atitude deles não é certa e que o mínimo de bom senso é necessário. Não digo aqui que eles são obrigados a te levar na hora que você quiser, mas que horários podem ser combinados, para que fique bom para ambos.

Outra coisa, converse com eles com antecedência a respeito de onde você quer ir e quando. Talvez se eles não possam te levar, alguém de confiança deles consiga.

Horas extras – O que é? É paga? Pode ser trocado por dias livres?

No contrato que eu já citei acima, um (a) Au-Pair precisa trabalhar 5 horas diárias e ter 1 dia da semana livre OU 6 horas diárias e 2 dias livres. Momentos em que você se alimenta e cuida da sua higiene não contam como horas trabalhadas. Com isso vemos que se um patrão seu pedir para você trabalhar horas a mais, isso seria sim considerado hora extra. Porém, é normal que se trabalhe umas horas a mais por dia, mas se isso extrapolar, é óbvio que hora de esclarecer as coisas.

Para conseguir dias livres a mais, uma ideia é trabalhar em um fim de semana que você não tenha nada para fazer. Com isso, você terá a oportunidade de ficar uns dias a mais longe da família nas férias.

Dica: Peça um calendário para sua família hospedeira e coloque ele num lugar visível para eles. Anote lá as horas que você trabalhou e a suma de horas extras que você fez. Talvez dessa forma eles vejam que você está controlando isso e que é errado explorarem você.

Negocie dias livres dessa forma ?

 O que é pausa? O que não é?

Pausa é o tempo que você pode tirar para si, descansar, caminhar, fotografar, andar de bicicleta, tanto faz. É um tempo seu. Dependendo dos seus horários, sua pausa pode ser maior ou mais curta, mas sendo claro que ela é sua e você pode organizar ela da forma que quiser. Se sua mãe hospedeira pedir para você ficar de olho nas crianças durante sua pausa, não podendo organizar ela da melhor forma que te convém, isso não é pausa. Fique de olho!

Dica: Diga abertamente que você tem direito a uma pausa e que precisa descansar. As pausas são feitas para você ter um tempo para si mesma, poder conversar com amigos e família, estudar… é seu, não deles tirando vantagem sua.

“Natal e afins” – quando a família não quer passar esse tempo com você

Bom, muitas famílias hospedeiras não vão querer te ter por perto em feriados especiais. Eu sei que feriados como este são importantes e sentimentais para todo mundo, mas as vezes SIM a família pode querer não te ter por perto. Muitos alemães são assim fechados, é triste, mas é real. Organize algo com amigos que estão na mesma situação, tente e veja como é um Natal somente com amigos em um país diferente. Não é fácil, mas o melhor a ser feito para não ficar sozinho (a).

Dica: Peça logo se você pode ficar com eles nos feriados ou precisa sair. Assim evita de você não conseguir se organizar e acabar se sentindo abandonado e longe das pessoas que ama.

Aeroporto e atividades culturais – é obrigação sim!

Como dito no contrato (o qual eu citei várias e várias vezes), a família é obrigada a te levar para atividades culturais e te pegar ou levar ao aeroporto. No caso do aeroporto, se eles não te levarem ou buscarem, é obrigação deles te pagarem a passagem de trem, ônibus ou tanto faz qual meio de transporte você pegar. Não se deixe enganar!

Dica:  Peça o que a família pretende fazer e se tem algo cultural (festa, exposição, desfile, …) na região e veja se você pode ir junto. No caso das passagens, repasse as datas com bastante antecedência e lembre a família de tempos em tempos.

Espero que desta forma tenha sido esclarecedor. Quando surgirem mais dúvidas, entre em contato com a agência pela qual você veio ou se caso você veio por conta própria, me deixe um recado com a tal dúvida.

Com carinho,

Bruna.

Escrito por

Bruna Both

Blogueira oldschool. Fui por anos autora do blog Divergências Vitais que se transformou agora em Fala, Catarina. Aqui falo sobre reflexões, assuntos bacanas e design, que está sendo uma das minhas grandes paixões.