Era a noite do desfile de Carnaval na cidade vizinha. Eu particularmente achava que não seria lá grande coisa, no fundo eu previa que aconteceria algo para me deixar meio chateada. Sabem aquela sensação que dá antes de sair de casa avisando que vai dar m*rda no rolê? Pois é.

Coloquei minha fantasia de pirata composta de tapa-olho, chapéu, pistola, luneta e fui. Obviamente também duas calças, duas blusas e jaqueta incrementando o look. Com graus negativos fora de casa eu não consigo andar só de meia-calça e vestido, nem sou maluca o suficiente para isso. Chegando lá encontrei umas amigas e fomos parar em uma daquelas cabanas onde tem música para dançar e muitas pessoas bêbadas fazendo besteira.

Foi chegar e notamos um monte de pessoas com fantasias criativas, tanto que eu acabei apontando para um homem com minha pistola e ele se virou e viu. Se virou e me deu um daqueles sorrisos dignos de derreter corações. Eu juro que não tinha feito aquilo com o propósito de chamar atenção dele, só queria mostrar para minhas amigas que aquele look anos 50 era engraçadinho. Minha amiga logo disse “socorro, me apaixonei” e ele começou a vir na nossa direção.

Eu certa que não era para mim, acabei virando a cara e quando vejo, o tal homem do sorriso lindo estava do meu lado e interessado em conversar comigo. Enfim, ele começou a conversar de um jeito tão querido que foi impossível não ficar com a pulga atrás da orelha com ele. Fomos até o bar, pedimos duas bebidas e ele começou a insistir que pagaria. Contra a vontade dele, paguei o que era meu e ele disse que se eu tivesse um namorado, teria que me acostumar a deixar o homem pagar.

Ué, por qual motivo? Com namorado eu não vou teria mais uma carteira?

Conversa vai e conversa vem, ele acabou perguntando de relacionamentos. Eu disse que não sabia direito o que achava sobre o assunto – vendo o tempo que nunca mais tinha me dado a chance de tentar-. Ele ficou impressionado pela quantidade de anos que eu estou solteira e o fato de ter tido um namorado aos 16, e eu fiquei impressionada por ele levar uma coisa boba dessas como algo importante.

Ele, Patricius (Pati) pelo que eu lembro, disse que trabalhava para uma grande empresa e passava a noite em hotéis de segunda a quinta-feira devido aos compromissos. Aos 25 tinha uma casa, carro, era separado, tinha filha de 2 anos e com todo o individualismo presente naquele corpo, não conseguia entender como eu, Bruna, não queria de cara ter nada com ele.

“Como assim tu não quer nada comigo? Eu tenho tudo!!!”

“Hey cara, calma” foi minha fala, mas isso ele também não gostou de ouvir. Se virou, foi embora e eu só gritei “tu acha que vai conseguir achar a mulher da tua vida com um papo desses no carnaval?”

Ele disse um “sorry” e mais tarde, quando vi, ele estava fora da festa sentadinho em um canto. Sozinho.

Se ele viesse conversar numa boa e não fosse impor algo para mim, provavelmente poderíamos ter saído em outra oportunidade para nos conhecermos melhor. Mas o que ele queria, na realidade, era uma mulher nova e não só uma conversa boba/leve típica do carnaval. Não queria alguém para começar uma conversa ou quem sabe um romance, queria alguém que topasse ficar com ele sem nem mesmo querer conhecer ele direito.

Até certo ponto, o comportamento dele foi típico de um narcisista. Falta de bom senso ao ponto de exigir demais de outras pessoas. Típico de pessoas bonitas que chegaram ao patamar de ter tudo e que se esquecem de valorizar as pequenas conquistas dos outros. Eu não quero alguém bonito, com dinheiro e fama. Quero alguém que goste de mim, em quem eu possa confiar e respeite que eu não tenho tudo e estou longe disso. 

Me desculpem, mas não preciso ser educada com pessoas que não merecem uma pitada dela. Não preciso aceitar grosserias e comentários machistas de quem não pensa no que fala. Muito menos sou obrigada a me sentir mal por não ter conseguido ficar com uma mordidinha daquele pedaço de mau caminho. Com roupa dos anos 50, nú ou coberto de ouro, não sou obrigada a aceitar comentários do tipo.

Não sou obrigada a nada, muito menos com homem na história.

Tenho dito.

(Essa imagem e a de destaque são vestimentas típicas de grupos que desfilam nas ruas na Alemanha durante o tal do Fasnet/Fasching. Diferente, para não dizer excêntrico.)

Escrito por

Bruna Both

Blogueira oldschool. Fui por anos autora do blog Divergências Vitais que se transformou agora em Fala, Catarina. Aqui falo sobre reflexões, assuntos bacanas e design, que está sendo uma das minhas grandes paixões.