Querida eu no passado,

que bom poder escrever para ti.

Você aparece muito no meu pensamento, sabe? Agora que as coisas estão tão diferentes, as vezes queria poder ser você de novo… Voltar a ir para a escola, dançar em festas, sentar ao lado do fogão a lenha no inverno e ler um livro, jogar carta com a “nossa” avó em uma tarde de verão! Ah, e acordar na hora que der vontade? Isso é o que eu mais queria agora. Você era mimada e nem sabia, não tinha praticamente nada para se preocupar. Agora que eu estou longe do que você era, eu penso em como você tinha uma vida boa e cheia de amor no Brasil! Se naquela época alguém tivesse dito que você seria eu futuramente, sei que teria rido como se não houvesse amanhã. E com razão.

Como novidades da vida, queria te informar que aquela sua teoria de que “mesmo não querendo, as pessoas só dão valor pelo belo” não está 100% certa. Você mudou muito daquela garota de 15 anos para a mulher que está com quase 20 agora. Sua paixão por sobrancelhas e dentes permanecem, até porque agora você se cuida e tem motivos. Aqueles anos com aparelho ortodôntico te fizeram ter mais confiança no ato de sorrir, agora eu consigo irradiar felicidade quando estou contente… Obrigada por ter tomado esta decisão.

Lembro que você conversava com suas colegas de escola e falava “quando eu tiver uns 18/20 anos e for linda, com certeza todos os que me acham feia agora vão se arrepender do que me disseram e vão gostar de mim”. Engraçado que quando você se descobriu como mulher, ninguém mais duvidava disso. Antes te tratavam como um menino, depois começaram a pensar sobre te tratar melhor. E sabe aquele rapaz bonito que apareceu quando você tinha uns 15 anos e ao invés de escolher qualquer colega bonita que você tinha, escolheu ficar com você? Ele fez os outros garotos perceberam que brincavam demais com alguém que não merecia aquilo. Tinha sim algo que te dava valor, e não eram quilos de maquiagem e nem alisamentos mirabolantes no seu cabelo. Era você, somente você.

Queria te avisar que agora eu estou aqui, sozinha. Me desculpa, mas foram as situações. Decidi fazer isso com a minha vida e se tem alguma coisa que eu queria, era ver o amor funcionando na prática. Talvez por escolha, talvez por falta de oportunidade, talvez por medo de se deixar levar de novo, o fato é que eu estou encalhada em terras alemãs. Sim, aquela Bruna medrosa e que mal saía de casa que você era, atravessou o oceano para curtir a vida (e se conhecer) em terras européias.

Depois de todas estas novidades, a coisa que eu mais me orgulho de dizer é que nós (passado e presente) permanecemos firmes e fortes depois de todas as coisas ruins que nos aconteceram. Mesmo estando longe uma da outra, eu agradeço por você sempre lembrar que eu tenho motivos para continuar lutando.

Espero que nossa amizade continue… sem ressentimentos. Ficarei feliz em lembrar que tudo o que você viveu me tornou quem eu sou agora, com todas as qualidades e defeitos.

Um beijo,

Bruna (você no presente)

P.S.: Quando você disse para seu primo que não era obrigada a escrever errado em redes sociais para parecer mais “popular”, sua ortografia deu pulos de alegria. Alguns de seus antigos colegas de aula ainda cometem aqueles errinhos que nós (você e eu) achamos que é o mínimo que uma pessoa deve saber. Os anos passam, mas certas manias continuam… acho que acertamos nessa.

Escrito por

Bruna Both

Blogueira oldschool. Fui por anos autora do blog Divergências Vitais que se transformou agora em Fala, Catarina. Aqui falo sobre reflexões, assuntos bacanas e design, que está sendo uma das minhas grandes paixões.