Adeus a você, que brincava de ‘família de leões’ abaixo da palmeira. Que na sua inocência infantil, me deixava curiosa e querendo saber (e ser) mais, mesmo em um tempo que eu nem sabia o que era isso. Você que me desafiava a ultrapassar meus limites, mesmo eles sendo pequenos na época.

Eu me despeço de você, que usava sua regata preta só porque eu dizia que realçava o seu bronzeado e as tatuagens que você tinha. Com tão pouca idade, você já estampava na pele referências tribais, símbolos asiáticos e animais ferozes. Adeus a você, que atrás da cara de mau, tinha alguém sensível e extremamente carinhoso. Que dançava Tayo Cruz e Neyo, não sabendo nem pronunciar o nome das músicas.

De você também, que passou de forma astronômica, cometa halley. Que me fez descobrir uma zombaria misturada com humor ácido, que eu nem sabia que tinha. Vi de forma rasa como era para as mocinhas, que em filmes se apaixonam pelo bad boy expansivo. Veio e foi tão rápido, nem deu tempo para se acostumar com sua presença.

Eu me despeço de você, que sempre vinha até mim com uma risada frouxa e aquela malandragem no olhar. Que dizia que eu tinha um olhar único, com uma íris âmbar que nunca tinha visto antes. Era a amiga, a nem tão amiga assim.

Digo adeus a aquele que cantarolava quando sua música favorita tocava. Tinha um apego grande às suas próprias prioridades, tão grande que ultrapassava várias barreiras minhas. Foi da doçura ao desrespeito em um pulo só.

E de pulos em pulos veio você, que nem gostava de pular e odiava chamar atenção. Veio de mansinho e mostrou que convívio pode se tornar carinho, acolhimento e amizade. Me despeço de você, que nem sabia que precisava tanto ter alguém por perto. Alguém que nem tinha se dado conta de quão solitário era.

Tchau especial para você também, que na sua timidez escondia uma pessoa com o coração quente e que só queria ser amada. Que queria muito ser amada. Amada intensamente. Precisava de toda a atenção que eu não conseguia dar.

De você me despeço sorrindo, já que sempre foi impossível ficar séria enquanto conversávamos. Nosso encontro me mostrou que eu não preciso esconder meu senso de humor e as pequenas coisas que me alegram. Não mexeu com meu coração, não me deu expectativas. Por mais que a presença fosse bacana, a distância nos fez mil vezes melhor.

É com felicidade que eu digo adeus a você, ao lobo vestido de cordeiro. Parecia tranquilo, mas só escondia maldade e raiva reprimida. Me fez de animada com a vida, virar apática. Tirou meu brilho e esperança. Não te sou grata.

Eu me despeço, não pertenço mais aqui. Não sirvo mais nesses espaços e não faço questão de servir. Essas caixas já tiveram o meu tamanho, minha cor favorita e o laço que mais me agradava, mas agora não gosto mais de caixas.

Me despedi disso tudo, para viver a leveza de agora. Para ser quem eu quero sem ter amarras do passado. Sem me sentir em dívida, como se por mais que eu fosse para frente, ainda tivesse um fio que me puxasse de volta.

Eu liberto e me liberto.

Agora eu sou eu.

Escrito por

Bruna Both

Blogueira oldschool. Fui por anos autora do blog Divergências Vitais que se transformou agora em Fala, Catarina. Aqui falo sobre reflexões, assuntos bacanas e design, que está sendo uma das minhas grandes paixões.